sexta-feira, 24 de maio de 2024

Pedra da Mina via Paiolinho: um bate e volta puxado.

Trilha: Pedra da Mina (alt. 2798 m.) - 4º pico mais alto do Brasil.

Data: 18/05/2024 (bate e volta)

Trilheiros: Fuca e Fepa

Km: 16 aproximadamente - Nível: Muito difícil.

Wikiloc (gravado celular) = https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/pedra-da-mina-via-paiolinho-171158614?utm_medium=app&utm_campaign=share&utm_source=2638789

Wikiloc (referência) = https://pt.wikiloc.com/trilhas-montanhismo/trilha-pedra-da-mina-via-paiolinho-mantiqueira-28954633


Pedra da Mina via Paiolinho: um bate e volta puxado.

Um certo fim de semana de maio de 2024, fomos andar e nos aventurar pela desafiadora Serra Fina, não para fazer a clássica travessia, mas para encarar um bate volta puxado de 1 um dia. No caso, o Pico da Pedra da Mina, via Paiolinho.

O dia escolhido foi um sábado, que foi trilhado por toda sua extensão do dia, e com trechos feitos à noite. No total, em torno de 15km ida e volta, mas não pensem que é pouco, pois o terreno acidentado por demais, as inúmeras escalaminhadas durante o trajeto, sobe e desce de morros, falsos cumes, etc., faz com que essa tarefa seja árdua por demais, aqui (lá), mais do que nunca, além do preparo físico, o psicológico precisa ajudar da mesma forma. Caso contrário, ocorre a desistência! Mas, como desistir de uma montanha? Principalmente quando já se está no meio do caminho? O sofrimento pode ser menor, voltando antes pra se preparar mais numa outra ocasião, porém o sofrimento psicológico posteriormente pode ser forte também. Uma escolha difícil. Então, é bom ter em mente que é fatigante, sim!


 

Planejamento

Chegou a temporada de encarar as montanhas, pegar dias com menos chuvas e com poucas chances de trovoadas, ah como era esperado essa época. No plano de uma trilha como essa é crucial saber a previsão do tempo, não tem margem para encarar tempestades nessa região – e isso eu me perguntava sempre lá no caminho: “imagina isso aqui na chuva?”

Outro ponto do planejamento é já agendar e comprar o ingresso de acesso ao RPPN, que é administrado pela Ruah! Ecoturismo. Lá, no site dessa empresa, tem as informações necessárias para adentrar tal trilha. Para o bem ou para incômodos, eles estão lá, nem sempre com preços acessíveis, mas parece que acaba por colocar uma certa ordem na situação. Ainda mais tendo em vista a fama que a Serra Fina possui e com isso atraindo muitas pessoas a fim de buscar momentos de aventuras. No entanto, nem sempre todos se comprometem a ter uma postura de mínimo impacto na serra, isso é o que intriga, pois o desfecho pode culminar em grandes desastres.



Então, ao comprar os ingressos, além de assinar os termos de responsabilidade, tem que ter alguns itens obrigatórios para trilhar. A título de exemplo: Shit Tube, Headlamp (Lanterna de cabeça), Manta de Emergência, Apito, Celular com carga, GPS (recomendado o Wikiloc da trilha – o app), etc.

Ingresso bate-volta: R$ 67,00 reais por pessoa visitante. ( https://trilhaserrafina.com.br/ )

Outro ponto é a questão da hospedagem. No nosso caso preferimos ir direto pro parque na madrugada, pois como iniciamos viagem após o trabalho numa sexta-feira, não compensava ir pra hospedagem chegando tarde lá (na hospedagem) e precisando acordar já cedo na madrugada. Mas essa escolha de ir direto até a portaria da trilha – Fazenda Serra Fina – é uma escolha cansativa também, até porque uma noite com um sono bem dormido não vai ter – e não teve rs.

Até tentamos alguns contatos, mas como não deram certo resolvemos ir direto pensando que conseguiríamos acampar no estacionamento da Fazenda Serra fina. Para nossa surpresa, tinha uma porteira fechada de cadeado a uns 2km ainda da guarita da trilha. Ok, cochilamos no carro mesmo. Não tava muito frio, o céu muito estrelado, mas não tinha tempo de ficar olhando pro ar, o jeito foi arriar os bancos e tentar algum cochilo que surgisse do nada, em meio à ansiedade também de já iniciar e de estar em viagem.

A estrada terra dava pra subir porque não tinha chovido por dias, mas em dias chuvosos deve ficar muito difícil de subir hein. Meu primo, Fepa, estava no volante e, já cansado também da viagem, levou o trecho mais ou menos numa boa. 01h30 da manhã estacionamos bem em frente dessa porteira fechada.

(dica: Pra facilitar já joga no google maps o trajeto antes, mesmo que use o waze na viagem. Ou até mesmo baixe o wikiloc desse trecho, de Passa Quatro até a Fazenda Serra Fina)

Outro ponto é a questão da alimentação, jamais subestime esse item, pois tem gente que não vive sem um café da manhã reforçado, outras pessoas preferem ter um almoço reforçado. Enfim, como é um bate e volta a intenção é justamente subir com menos peso possível, então inviável levar fogareiro e tudo mais, foi pensado, assim, em lanches de trilha, coisas para dar energia e sustância ao mesmo tempo.

(dica 2: Agora voltando à questão da hospedagem, a que usamos no retorno de tudo. O Fepa conseguiu um contato bom, de um Hostel recomendadíssimo: o Hostel Vila Carioca [Passa Quatro], bem aconchegante, receptivo e com bom custo-benefício. Um apartamento com 2 camas, banheiro com chuveiro quente, frigobar, toalhas, roupa de cama, café da manhã, da tarde, etc. saiu por R$ 230,00 pra 2 pessoas. Foi tudo que necessitávamos naquele momento da volta...)

Na trilha

Deu 05h00 em ponto e o rapaz que ficaria na guarita abriu a porteira. O cochilo passou tão rápido que parece que só pisquei. Nesse trecho a subida continua forte e cada vez mais íngreme. Não é pra menos, já iriamos parar na guarita que fica a aproximadamente 1550 metros de altitude. Agora, só pra ter uma ideia da bucha em que nos envolvemos, o cume da Pedra da Mina possui 2798 metros de altitude, e tudo isso de diferença deveria ser vencido não só subindo, mas descendo também, pois imagina você pensar que está se aproximando do topo, daí vem uma descida pra testar sua paciência, rs...

Haja paciência, é verdade, pois paciência é uma das virtudes, não é? Quando você pensar em dizer que nem seria tudo isso que dizem, calma, você terá a resposta no final, rs...

Eu iniciei a trilha sendo uma pessoa, aquela determinada, confiante, sem dores, cheia de fôlego, na volta a história foi outra.



Batia 05h40 quando já estávamos caminhado pela mata fechada, um trajeto sem muito aclive, um caminho sem obstáculos, como se fosse um passeio de bosque. O dia não tinha amanhecido ainda. Usávamos lanterna para iluminar os passos adiante. Andávamos rápido, tinha um grupo mais atrás, só que iriam acampar e, com isso, estavam mais pesados. Logo mais à frente vimos que esse grupo se dividiu em 2. Com 4 integrantes em cada um deles, o primeiro grupo nos passou após 1 hora de trilha. Nesse momento, já não precisávamos mais usar nossas lanternas e já tínhamos feito uma pequena pausa uns 10 minutos antes.

As bifurcações que mostravam no mapa - o wikiloc que eu tinha arquivado no off-line do meu app – não se fizeram presente nessa trilha, pois o parque fez um trabalho de “fechar” essas bifurcações, e aqui adianto, a trilha se encontra praticamente autoguiada, pois nos pontos de altitude mais elevada, têm-se os totens indicando o caminho correto, além de estarem também com o reflexo para lanterna em casos de caminhada noturna, e, além do mais, não tinha capins pra atrapalhar no curso do trajeto.

Depois de mais de 1 hora de trilha a subida começa a ficar mais inclinada, a erosão e obstáculos da trilha já se faz presente, o primeiro ponto de mirante chega a aparecer. Então a partir daí é só subida de fato. No entanto, acalme o coração, pois o trecho mais temido, o mais falado, talvez o mais desafiador do dia, ainda estava por vir: a subida do “Deus Me Livre”.



Após passar por uma clareia para acampamento, chegou então o último ponto de água, no caso é um ponto de água que se tem em toda a temporada, não seca. Esse ponto de água é importante pois se localiza bem no pré-Deus Me Livre. Depois disso, prepare-se para escalar e se trepar nas rochas. Aqui, não só força, mas paciência, novamente. 2 horas de trilha já tinha se passado. Momento esse que pensei que chegaria no cume com 5 horas no total... ledo engano. Mesmo já tendo ultrapassado o grupo que estava à nossa frente.

Com o Deus Me Livre vencido (em partes – tinha a volta rs) começou-se então a descida desse morro. Nisso, já avistava bem imponente a ascensão do morro “Misericórdia”. Até aqui tudo ia bem comigo, até que nessa descida passei a sentir uma velha dor que me vem acompanhando há tempos, sobretudo depois que jogo futebol ou fico muito tempo em pé. É uma dor na sola do pé, bem na região do calcanhar! Foi nesse instante que percebi que qualquer trecho de descida seria trabalhoso pra mim, no sentido que eu teria que evitar um impacto direto, ou seja, teria que aliviar e não pisar primeiro com o calcanhar, rs.

Uma coisa eu tinha na cabeça, quando esquentasse mais, essa dor iria passar... ledo engano novamente. Mas segui!



Eu entendo as pessoas falarem do Deus Me Livre, mas o Misericórdia judia da mesma forma. Minha nossa, que sequência é essa. Não é pra pouco, não. Puxado de fato!

O que torna tudo mais empolgante é a paisagem ao redor. Ah como essa região é bonita, que serra massa em nosso entorno. Olhar para o caminho traçado se torna uma cena de filme, um cenário desenhado com as melhores intenções possíveis. Ora vemos a cadeia de montanha da Serra Fina, ora avistamos a cidades bem pequeninas lá ao longe, quando não, estamos apreciando outras montanhas da Serra da Mantiqueira. Leva-nos a pensar que vale a pena, apesar de ser puxado.

Já tinha dado 5h10min de trilha quando eu estava próximo da base da Pedra da Mina. Acredito que era umas 11h25. Ou seja, nada de cume em 5 horas. De fato foi em 6h25min.


Antes de me acelerar para o ataque à Pedra da Mina, sentei (quase deitado mesmo rs) e pensei que não aguentaria, mas eu já tava pensando na volta. Ia ser tenso! Mas, mano, pra quê sofrer por antecedência...

Quando a neblina tomava a atmosfera, o tempo esfriava, daí eu colocava a blusa, mas logo o sol aparecia novamente, então tirava a blusa. Por bem dizer levei 2 blusas e nem usei direito. Uma coisa eu posso dizer que deu bom pra nós, foi o fato de ter ventado muito pouco, ufa! Lembro-me que no Pico dos Marins a ventania não cessou um segundo, aumentando consideravelmente a dificuldade de locomoção, aqui não tivemos esse problema.



Ah o Vale do Ruah, uma tela bela sob nossos olhos, foi só olhar para o lado, revitalizou pra subir o último trecho. Vencido, foi assinar o livro de cume, descansar um pouco curtindo visual, enquanto chegava um pessoal vindo lá da Toca do Lobo.  Já dos que tinham acampado lá em cima, uns 20 minutos depois de nossa chegada eles se foram.

Apesar de estar no topo, o pensamento nem sempre era favorável, era um misto de sentimentos. Por um lado, sensação de missão cumprida, sensação de objetivo alcançado. Por outro, nem tanto, pois ainda tinha a volta. Aqui, o ditado de que pra 'descer todo santo ajuda', não cabe nadinha. É real que eu estava cansado e, com a pausa, as dores no pé e nas coxas eram evidentes. Todavia, como dito, já não tinha como desistir, o jeito era se tornar outra pessoa, a pessoa da descida – aquela pouco determinada, com dores, pouco fôlego e quase chorona (reclamona) rsrs!



13h20 marcou o tempo da volta, encontraríamos mais pessoas fazendo o trajeto de ida, a maioria era a galera que ia acampar pra ver o pôr do sol e conseguintemente o nascer do sol no dia, isso se acordassem, é claro.

Além dos que estavam subindo, tinha um grupo que veio lá da toca do lobo, passando pelo Pico do Capim Amarelo, pela Pedra da Mina e descendo via Paiolinho. Esse grupo eu deixava passar, pra eu ir numa boa, meu primo foi bem à frente também. Vez e quando ele esperava num certo ponto. Quando ele retomava, daí era a vez de eu parar um pouco.

Percebi que tinha gente fazendo uma trilha dessa magnitude pela primeira vez, (ou até mesmo a primeira trilha deles?) e percebi que estavam frustrados pela tamanha dificuldade física, não técnica. Estavam com guia (talvez nem seja guia propriamente dito) que seguiu com parte do grupo bem avançado e deixou a maioria pra trás. Só vi que começaram um bate-boca bem entre morros, uma parte lá do Misericórdia e outra parte no cume do Deus me Livre. “Se fosse pra trilhar sozinhos não pagaríamos caro por um guia, etc”. Um exemplo das falas, rs.



Sei que pra atingir aquele ponto d’água lá na base do Deus me Livre demorou demais. Pensava que nunca ia chegar. O céu se preparava pra escurecer, foi questão de minutos e me pus a trilhar no escuro (mas com lanterna). Assim foi até as 20h20min, quando cheguei na portaria e dei baixa no meu nome. Nesse tempo o moço da guarita tava preocupado, algumas pessoas que marcaram bate-volta provavelmente iriam acampar lá. Outro grupo, o do guia mesmo, tava bem atrás e esse “guia” teve que voltar lá, em sua trilha noturna, para resgatar seus clientes, não parceiros de trilha.

Enfim, a volta fiz em 7 horas, sofridas por demais. Preciso de mais preparo, pois essa é puxada. Mas no final é agradável. Até porque prevalece o trecho que assinei no livro do cume:

“Quero assistir o sol nascer... ver as águas dos rios correr... ouvir os pássaros cantar... eu quero nascer, quero viver.... Deixe-me ir, precisar andar.....”

Pra um dia encarar a Travessia completa da Serra Fina!!!

Pé de Natureza!

Domingão: Parque Florestal Passsa Quatro


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